quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Um pouco menos de mim ainda resiste

Hoje me encontro encolhido no coração da tempestade, no olho silencioso e destrutivo do furacão, agarrado à mais frágil e pequena  esperança de outra vez ver a luz do sol.

Não sinto frio nem sono nem fome, não sinto mais dor. Estou apenas quieto, parado e absorto em pensamentos vazios, um turbilhão de inúmeras lembranças e quimeras; uma inquietude disfarçada em solidão; uma infinidade de tantas coisas possíveis e impossíveis possibilidades, que meu entender já não mais consegue entender.

Quero chorar! Quero gritar! Minhas lágrimas e minha voz se foram com o passar do tempo. Secou- se a fonte dos meus sentimentos e não mais consigo expressar o que trago aqui dentro do peito.
Esse é meu jeito de dizer que não aguento mais.

Cada passo que dou parece o último, 
Cada gesto que faço, meu último ato.
Cada dia mais sinto que não mais sei sentir um pouco mais e um pouco menos de mim ainda resiste. 

                                                                    Igor Furtado

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Mas, e o choro?

E o choro?
Fica retido na garganta.
A dor, de tão antiga já é tanta, que nem mesmo sei por onde começar a chorar!

Às vezes melhor seria ignorar e deixar sarar;
Às vezes melhor nem mesmo começar!

Por tantos caminhos tortos já andei, que agora não me lembro mais como voltar!

E a lágrima?
A lágrima, de tanto que chorei não mais rolou, pois a fonte donde vinha já secou, apesar de ainda doer ao me lembrar...
Careço um coração que faça par com o que do meu sobrou,
Padeço essa angustiosa solidão, fincada como flecha no meu coração, que não o quer deixar sarar...

Agora meus dias são e se vão vazios e meus lamentos, o vento há de levar.
Pois cada choro, cada lágrima, cada dia me faz ainda mais definhar.

Mas, e o choro?
O choro?
Morreu em silêncio na garganta, morreu lutando agarrado ao peito meu, tentando se livrar! Morreu!

Igor Furtado.

domingo, 15 de setembro de 2019

Daria tudo para poder voltar!

Elevou os olhos para o céu;
Fez uma última prece silenciosa;
Suspirou dolorosamente, pois o que havia no peito estava mais uma vez em pedaços;
Lutou contra o peso da dor e tentou se pôr de pé;
Trôpego, conseguiu chegar à outra calçada;
Caiu desacordado aos pés de um anjo que por ali passava...

...acordou no Paraíso;
Viveu por lá uns tempos;
De lá foi obrigado a sair;
Daria tudo para poder voltar...

Igor Furtado.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Por quantas eternidades terei de esperar?

Por quantas estradas e trilhas ainda vagarei seguindo tuas pistas?
Por quantos enquantos haverei de te imaginar ao meu lado?
Somente alguns segundos antes que o sonho se desfaça, consigo até tocar a tua imagem...

Dias nascendo escuros e cinzas, noites parecendo não ter fim. Assim vou seguindo meu caminho, discorrendo meus segundos, meus dias, minhas horas mortas...

Pessoas num indo e vindo tão apressado, num vínculo tão distante, errando em linhas tortas, em direções contrárias.

Me vejo perdido em meio a tanta gente viva que parece morta;
Sonhando sonhos frios em seus cobertores vazios e camas confortavelmente fúteis.

Por quantos talvez irei passar e esperar?
Por quantas imensidões irei vagar até chegar onde devo chegar?
O vazio implode minhas esperanças!

Estou caminhando em círculos;
Beirando abismos;
Chorando lágrimas que não são mais só minhas...

Por quantas eternidades terei de esperar?

Igor Furtado.

quinta-feira, 28 de março de 2019

Sozinho

Vago em meios vagos, espaços vagos vagueio.
Minha vida e minha sina se resumem ao meio.
Se dividem ao meio,
Se deafazem e se refazem pelo meio.
Pelo medo, perdi minha linha reta, minha dádiva e mais linda quimera. Lamento ter errado contigo e com o nosso mundo.

Em meus últimos dias, fizeste-me pagar o novo e o velho; ver e rever pessoas mortas; fazer e destruir promessas; sonhos e realidades tortas.
Arquei com todos os meus pecados e ainda assim, parto devendo. Pois teu querer não tinha preço.
E isso jamais compreenderás!

E como que para fugir ao habito, tudo que fizeste também recaiu sobre mim.
Cada palavra e gesto; cada lágrima e grito; cada céu e inferno; cada dia e noite eternos; cada momento bom e grande sofrimento.

Não importa mais!
Nunca compreenderás o que te digo!
Parto só comigo e rodeado de fantasmas doutros tempos...
... Sempre sozinho...

Igor Furtado.

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Para além da eternidade

É mais um ano novo.
Outros motivos, as mesmas esperanças e desejos de felicidades.
Os mesmos motivos e esperanças renovadas.
Ninguém mais acredita de verdade. Apenas sorri e finge estar tudo bem, finge haver uma felicidade renovada.
Abraços, beijos, fotos, sorrisos, mais fotos, mais beijos.
Vidas e amores perfeitos nas time lines da vida.

É mais um ano novo e os amigos velhos ficaram realmente velhos ou sumiram na poeira do tempo.
Os amores perfeitos murcharam, pois não são sempre vivas.
As flores do jardim morreram por falta de pagamento.
A ramagem ficou cinza.
Quando muitos foram para as praias ou lugares badalados, os que ficaram resolveram roubar os deixados para trás.

Eis aí outro ano novo de novo.
Não esqueçam que as fotos borram e se apagam, mas os verdadeiros momentos ficarão para além da eternidade...

Igor Furtado.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Fleur de ma vie

Ainda trilho e sigo a mesma estrada onde sei que te deixei lá atrás, em algum lugar.
Cada dia, cada hora que passa, mais longe e difícil fica para eu regressar.
Te fiz uma promessa: voltaria para te buscar.
Ainda estou a buscar um meio pelo qual eu possa, uma forma, uma maneira de te encontrar.

Já tanto tempo é decorrido desde o nosso último encontro. Ainda assim, guardo comigo o sabor daquele sorvete e a sensação da chuva da tarde que nos banhou a ambos.

Teu sorriso vive sempre em minha mente e meu coração se parte um pouco mais a cada vez que penso, que estás agora tão mais ao norte de onde estou.

A noite, olho os céus e busco aquela estrela solitária onde moras, de onde vim...

Tudo em mim remete ao tempo em que tu, pequenina, me chamavas de papai.

Igor Furtado.